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Jandira Grillo era brilhante! E como boa parte das pessoas brilhantes, era estranha e fascinante. Olhar por demais penetrante. Bem bonita.Pacificada, mas em seus escritos, podia-se ler a alma inquieta. Seu universo interior era gigantescamente maior do que o que se podia ver. Me intrigava aquela criatura, por quem sempre nutri grande afeto.
Poetisa premiada da Academia. Autora de livros e publicações. Senhora de todas as letras.
Tornou-se Pereira e com José, gerou duas filhas.
E tocava violão...
A tia Janda tinha um violão (enorme e lindo, segundo a minha visão infanto-psicodélica-anos setenta!). Era todo azul! E só poderia ser colorido o instrumento de tal criatura diferenciada. Com certeza, tinha mágica naquele violão!
Um Giannini todo azul, com o Rio de Janeiro estampado no corpo, onde se via o Cristo e a paisagem, com pequenos detalhes dourados e desbotados nas bordas.
No colo da tia Janda, era mesmo um violão de artista!
(Eu era pequena e sumia atrás do Rio, se tentasse segurá-lo. Tentava. Mas ainda era mais fácil deitá-lo e ficar dedilhando, fingindo produzir acordes perfeitos, ao invés daqueles ruídos indecifráveis e absurdamente incômodos a qualquer ouvido paciente.)
E tia Janda tocava e cantava, em coro com as irmãs, que faziam terças, num longo e belo repertório, com vozes muito bem afinadas. Era lindo de ver e ouvir, mesmo achando algumas canções antiquadas demais para o meu moderno repertório musical.
Por essa influência, já mais crescida e com suficiente empunhadura, fui aprender a tocar violão e ela me emprestou o violão azul! Até que obtive o meu, bem menos incomum.
Passei a tocar também com ela e para ela, que me ouvia interessada. Sentava-se, como sempre com os cotovelos apoiados nos joelhos, ouvindo e cantando, em posição de entrega a nossa atividade musical. Cantamos juntas. Compusemos canções juntas. Foi uma honra pra mim. Não sei se ela, algum dia soube disso.
Muitos anos depois, tia Janda partiu para o mundo com que ela passou a vida vislumbrando e acreditando ser tão ou mais real que esse em que vivemos.
Não sei que fim levou o violão azul.Se tivesse alma, teria ido com ela.
Por que conto essa história?
Porque, numa dessas lindas manhãs de outono, em que o azul do céu vibra ainda mais nos olhos, eu transitava de carro pela Avenida Juscelino Kubitschek, quando tocou no rádio um samba-canção daquela época, chamado “Retalhos de cetim”. E foi nessa hora que minhas lembranças deram um salto veloz para o passado.
Tirei a cabeça pra fora da janela, ventou forte no meu rosto. Olhei pra aquele céu maravilhoso e a convidei: Vamos cantar juntas, tia Janda!! ...”Eu chorei, na Juscelino, eu chorei”...
Eu chorei também Bela!!! Lindo....
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ResponderExcluirVc por acaso não poderia conseguir pra mim uma foto dela, da Jandira Grillo? Vou refazer o tópico dela na Comunidade Poesia Brasileira e não tenha nada, só os poemas. Ficaria imensamente grata. Se tiver um livro, escaneia e manda a capa tbm.
ResponderExcluirPor favor, vamos contribuir para a obra dela ser mais e mais divulgada. Abraços.